terça-feira, 30 de novembro de 2010

Coisas que perdemos pelo caminho (graças a Deus)

Assistir a TV demais.

Assistir a Discovery Home & Health demais (o que significa ver bebês demais, mulheres rejuvenescidas demais e ambientes decorados demais).

Ter um sofá grande demais para a sala.

Ficar tempo demais em casa.

Ficar tempo demais sozinha.

Achar um produto de limpeza de 5 reais muito caro.

400 contra a cama

A locadora aqui perto de casa tem um talento raríssimo e incrível para colar na porta os pôsteres dos filmes mais desinteressantes e obscuros do mês.

Como "400 Contra 1" (?!) e "Minha Cama de Zinco", cujo pôster é especialmente caprichado, pois não dá pista alguma sobre a história, ou sequer de que gênero trata.

Conheçam "Minha Cama de Zinco":

sábado, 27 de novembro de 2010

The hard knock life

"'Steada treated, we get tricked!
'Steada kisses, we get kicked!"
-- Annie and the orphans, It's the hard-knock
life
Hoje eu fui comprar coisas para o Samuel.

A missão foi um pouco difícil, porque eu não conheço o Samuel.

* * *

Quando eu tinha 12 anos queria aprender latim. E grego. Culpa do meu professor de História, que era meu maior herói.

Eu também queria ter uma jaqueta (de pelo) da Fruto Verde. E um tênis Nike.

Mas minha mãe só comprava Popi.

* * *

O Samuel tem 12 anos, veste 16 e calça 38. Não achei tênis para ele nas lojas infantis, fui a uma loja de adulto.

Comprei também uma camiseta verde. Mas temendo que ele seja corintiano.

* * *

Quando eu tinha 12 anos escrevia um diário. A capa do meu diário foi decorada em alguma tarde na casa da Roberta, em um estilo criado em conjunto que mais tarde ficou conhecido (entre nós duas) como "furacão de cabeças".

Tinha um Bart Simpson e um Axl Rose. Mas eu nem gostava de Guns.

* * *

Tenho que comprar um brinquedo para o Samuel. A Veruska me disse no e-mail que ele tem "muitos irmãos menores" e que às vezes "tem que se responsabilizar por eles".

Não entendi muito bem. Comprei um jogo de tabuleiro. Imagem & Ação. Ele pode desenhar *and* distrair os irmãos menores brincando com eles.

* * *

Quando eu tinha 12 anos queria ser arqueóloga. Culpa vocês já sabem de quem.

Até que minha mãe me disse que minha vida *não* ia ser igual à do Indiana Jones.

Aí eu quis ser professora, acho.

E eu fui.

* * *

Falta só um livro para completar meu pacote para o Samuel.

Queria comprar "Raul da Ferrugem Azul", da Ana Maria Machado, mas não sei se está esgotado.

Eu li "Raul" pela primeira vez aos 8 ou 9 anos. Mas continuo lendo esse livro até hoje, mesmo sem tê-lo aqui em casa.

Porque ele me diz, de uma forma colorida e bem disfarçada, tão disfarçada que levei 23 anos para decifrar: a vida é dura. Faça a coisa certa.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu sou neguinha?

Meu cabelo sempre foi loiro e liso. Aí eu queria fazer uma permanente (não riam, eram os anos 80) e/ou cortar bem curto.

Mas meu cabelo, vejam bem, era incortável. Pelo menos na opinião geral. Porque era liso e loiro.

"Pra que vai cortar um cabelo tão bom, tão bonito?", me diziam.

Eu cortei meu cabelo com 21 ou 22 anos e nunca mais deixei crescer.

* * *

Um dia perguntei pro meu primo Roni, que desde muito antes de eu conseguir cortar meu cabelo usa a cabeça raspada, por que ele não deixava o cabelo crescer.

Ele riu e me disse: "cabelo de preto é ruim. Tem que raspar".




terça-feira, 23 de novembro de 2010

É de comer?

Pronto, já é Natal. Tempo das espetaculares pirâmides de panetone nos hipermercados, de gastar uma hora e meia para atravessar o Ibirapuera e de tirar os reis magos do armário e botá-los para levar ouro, incenso e mirra para o Menino Jesus do presépio.

Ouro e incenso, ok. Mas mirra?

Mirra, como todos sabem, ninguém sabe o que é.

(Nem a Virgem Mandy).

Muito provavelmente porque o ouro e o incenso vieram em caixinhas e palitos, mas a mirra veio num daqueles saquinhos de ketchup e até hoje ninguém conseguiu abrir.




-- Dedicado à Carocha

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Não seja

Todo mundo que fala "sem querer ser chato" é porque, logo na sequência, vai ser.

--- (~) FIM (~) ---

As rampas do planeta

Quando eu era pequena, minha mãe ouvia um LP da Gal chamado "Profana".

Tinha uma capa preta, com a cara bem de perto de uma Gal bem branca, com batom vermelho. Meio vampiresca. Eu podia olhar no Google e confirmar. Mas na minha cabeça era assim.

Eu gostava da música "Vaca Profana". Porque eu fazia imagens (loucas) das coisas (loucas) de que a letra falava, sem saber muito bem onde ficava Tel Aviv ou quem era Thelonious Monk. Mas eu literalmente viajava com aquilo.

Além de tudo, ela falava tetas. Era meio que um prazer clandestino, um semipalavrão.

Mas o que eu mais me lembro é que eu pensava que a Gal falava das "rampas do planeta", não das "Ramblas do planeta". Só fui descobrir quando fui a Barcelona. Com mais de 25 anos.

E o lance da orchata de chufa descobri ano passado.

Não que faça muita diferença, no fim, eu acho.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Levanta, defunto

"I felt so much love this mornin'"

-- Joe Jeffrey Group, My Pledge of Love

Joe Jeffrey Group: me ajudando a levantar da cama desde 1995 (quando eu ouvia Alpha Memory).

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tem dias

Às vezes, eu telefono para alguém esperando que caia na caixa postal ou na secretária eletrônica. E me desaponto quando a pessoa atende.

Às vezes eu ainda falo "alô? Ué! Mas você não devia não estar aí?". Aí me sinto culpada.

E, se a pessoa não atende mesmo, às vezes eu contorno a minha própria culpa antecipada deixando um recado besta, do tipo “olha, eu vou tentar te ligar de novo, mas se eu não conseguir, bom, me liga quando você puder”.

Eu não presto.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

The objects of my affection

Eu tinha uns objetos de desejo muito estranhos.

Tão estranhos que havia me esquecido de alguns deles.

É o caso do biombo. Lembrei quando estava assistindo "Piaf" outro dia: teve uma época em que tudo que eu queria era ter um biombo.

Até hoje não sei direito o que eu faria com o biombo. Provavelmente me trocaria atrás dele, lançando as roupas por cima -- é o que todo mundo faz nos filmes.

Ou fumaria atrás dele, na contraluz.

* * *
Noutra época eu queria ter... uma prancheta.

Não sei o que dizer a respeito.

Hoje eu sou fissurada por uma galinha de borracha. Sabe, aquelas que às vezes penduram nas antenas de jipes? Essas daí.

* * *
Só tem uma coisa mais estranha do que ter estes objetos do desejo: nunca tê-los realizado.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

El día de los muertos

"The days to come, the days to share"
-- REM, Photograph

Na casa da minha avó era a maior economia.

O papel higiênico era Primavera, sempre. Áspero e cor de rosa.

As cascas de ovos iam para os vasos de orquídeas.

Os restos de sabonetes eram amalgamados em pequenas bolinhas multicor, que continuavam ali para se lavar as mãos.

O sofá era reencapado.

As pontas das canetas eram aquecidas na boca do fogão.


* * *
Minha avó sorria e me chamava de "boba" quando eu, fresca, não queria comer ou fazer alguma coisa. Ou quando eu respirava pela boca ao passarmos pelas barracas de peixe na feira.

Meu avô era enorme, esbravejava e consertava tudo.

(E gostava de jogar no bicho. Ao lado do telefone ficava um bloquinho impresso com siglas que eu não entendia. Fiz muitos desenhos e escritinhos nessas folhinhas, que mais tarde percebi que eram folhas de apostas de jogo do bicho, para todos, federal, essas coisas).

* * *
No fim, acho que a Nina gostava do Berto.




segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O último lugar

"The sun may rise on the east, at least it settles in its final location"
-- Red Hot Chili Peppers, Californication

Los Angeles roubou meu coração.

A cidade é quente e azul. Cheia de gente morena. E barulho de carro. E placas de "proibido estacionar" de um detalhismo inenarrável. E com um melão delicioso oferecido no café da manhã do bed & breakfast da Dianne (em compensação aos sabonetinhos vulgares que ela nos dava para tomar banho).

Mas não quero fazer muito fuss a respeito (vt+vi exagerar, espalhafatar, estardalhaçar, excitar-se, inquietar-se, alvoroçar-se, estar irrequieto, agastar-se à toa; obrigada Michaelis).

Prefiro fazer fosquinha.