Este...
Ou este?
* * *
O edredon verdinho que ainda me cobre hoje tinha borboletas brancas, eu acho. Isto há muito tempo.
Digo 'eu acho' porque eu mesma desconfio muito de mim.
E também porque não há o menor sinal da estampa de borboleta sobre a trama agora.
Talvez eu tenha imaginado as borboletas brancas.
Mas por que eu teria imaginado isso?
* * *
Tem aquela história famosa que nós contamos sobre o Zé Celso.
Trata-se de um trecho inesquecível de uma entrevista em que ele explica como descobriu o teatro. Ele aponta para o cocoruto e repete a frase solene:
"Eu descobri o teatro quando eu descobri o meu cu".
Supostamente fui eu que assisti isso, ainda nos tempos de rua Atlântica. Muito tempo mesmo, era pré-YouTube. E contei para a Roberta. E ela contou para a classe inteira. E cada uma das meninas da classe reproduziu aquilo de forma que, hoje, os meus colegas de trabalho conhecem a frase. E não por mim.
Mas, para falar a verdade, eu não me lembro mais da cena.
Para falar a verdade, eu acho que a repetição da história simplesmente ocupou o lugar do acontecimento original.
(Porque, por outro lado, eu acho que seria incapaz de inventar esta cena, embora eu adoraria tê-la inventado).
Que nem as borboletas brancas.